Homenagem ao legado de Mark Mallia pela Funda??o SiGMA
Algumas vidas s?o vívidas, pintadas em tra?os e cores ousadas que deixam uma marca indelével em todos que tocam. Para o renomado artista maltês Mark Mallia (1965-2024), a arte n?o era apenas algo que ele criava; era algo que ele vivia. Mas além do artista, ele era um filantropo. Seu cora??o pulsava em sintonia com a miss?o da Funda??o SiGMA. Essa funda??o é uma maneira maravilhosa de lembrar o quanto ele se importava em ajudar as pessoas. Através das memórias de seu amigo e parceiro criativo, Etienne Farrell, a história de Mark se desdobra com risos, lágrimas e um inconfundível senso de orgulho.
O homem por trás da arte com um cora??o de ouro
“A pessoa era o artista e vice-versa,” come?a Etienne, com os olhos brilhando de uma mistura de divers?o e carinho. Ela ri, balan?ando a cabe?a. “Mark podia ser muito flamboyant às vezes e adorava se exibir.” Mas por trás da performance, havia um homem profundamente empático. “Ele costumava sentir muito. N?o que ele n?o se importasse. Era que ele projetava essa imagem. Tenho certeza de que era para se proteger. Mas por dentro, ele era apenas um marshmallow.”
Uma de suas últimas colabora??es na orla de Sliema traz um sorriso ao lembrar a montagem das enormes mesas, posicionadas lado a lado. “Uma ficava do lado interno da cal?ada e a outra do lado externo,” ela explica. “Ele disse: “Escolha a que você preferir.” E eu respondi: ‘Com você se exibindo, é claro que vai ficar o mais perto possível das pessoas.’” E lá estava ele, com o soprador e o ma?arico, em meio às chamas, feliz e se exibindo para todos.
Etienne recorda a generosidade de Mark e seu envolvimento com várias causas. “Ele trabalhou muito com o Dar Bjorn, por exemplo.” Etienne conta como teve dificuldade em continuar com as exposi??es e projetos que estavam planejando, com uma exce??o. “Estávamos organizando uma exposi??o beneficente em prol da Kate, uma menina maltesa de cinco anos que enfrenta a Síndrome de Tatton-Brown Rahman, uma condi??o extremamente rara que afeta cerca de 250 pessoas no mundo. Essa é a única exposi??o que mantive… Em dezembro, teremos essa exposi??o dedicada à Kate.”
Embora frequentemente projetasse um exterior forte, aqueles que realmente o conheciam entendiam que seu cora??o era vasto e generoso. Por um momento, seu sorriso se desvanece. “As pessoas pensavam que ele n?o se importava, mas era totalmente o oposto. Ele apenas levantava essa parede, sabe?” Sua voz embarga, e o sorriso retorna. “Mark era muito empático e chorava porque as coisas aconteciam, mesmo com seus amigos. Ele costumava sentir muito.” A generosidade de Mark n?o conhecia limites. Ele acolhia pessoas sem-teto em sua casa, oferecendo-lhes comida, roupas, dinheiro e até cuidava dos gatos de rua do lado de fora.
A dedica??o de Mark à Funda??o SiGMA
As contribui??es de Mark para a Funda??o SiGMA foram mais do que atos de caridade. Eram extens?es de si mesmo. Assim como a arte de Mark enchia as galerias, sua generosidade preenchia cora??es, especialmente através dos projetos da Funda??o SiGMA. A funda??o, dedicada a apoiar comunidades vulneráveis, canaliza seu legado a cada iniciativa que empreende.
O orgulho de Etienne é inconfundível enquanto ela fala sobre seu trabalho com a SiGMA, especificamente no leil?o onde ele doou suas pe?as para arrecadar fundos para várias causas. “Ele era muito, muito ligado à SiGMA,” ela diz calorosamente. “Ele sempre falava sobre isso, sempre. A cada poucos meses, ele mencionava o leil?o, o quanto isso significava para ele, o quanto de bem estava fazendo. Ele estava t?o orgulhoso.”
Uma de suas lembran?as mais queridas é de Mark, totalmente à vontade, em um leil?o da Funda??o SiGMA. “Ele estava tipo, ‘sim, eu vou subir ao palco,’” ela recorda com um sorriso, lembrando como ele aproveitava a oportunidade para falar sobre seu trabalho diante da plateia. Ele estava pedindo às pessoas que fizessem lances por seu trabalho por uma boa causa.
“Mark era essa pessoa. Você n?o podia ignorá-lo. Assim que ele entrava, você o notava. E ele era uma pessoa que você tinha que notar. Você tinha que ou amá-lo ou odiá-lo. N?o havia meio-termo.”
Através da Funda??o SiGMA, Mark canalizou sua empatia em um impacto tangível. Seu objetivo era simples: ajudar as pessoas. Etienne acrescenta: “Se fosse para caridade, ele estava dentro. Era tudo que ele precisava saber.”
O espírito de Mark ressoava com a miss?o da Funda??o SiGMA de elevar comunidades, n?o apenas por meio de fundos, mas através da educa??o e empoderamento. Sua arte, leiloada e apreciada por outros, se tornou uma tábua de salva??o para pessoas que ele nunca conhecera. Para Mark, isso era o que importava.
Um vínculo além das palavras
A conex?o entre Mark e Etienne ia além da amizade. Era, em suas palavras, “muito espiritual.” Rindo através das lágrimas, Etienne conta sobre a sincronicidade criativa que tinham. “Ele me diz, ‘Sim, eu quero fazer um peixe.’ Eu digo, ‘sim, eu também quero fazer um peixe,’” ela lembra com um sorriso carinhoso. “Discutimos de quem foi a ideia. Costumávamos nos enviar mensagens como ‘saia da minha cabe?a.’”
O vínculo deles era uma vis?o compartilhada que se estendia à maneira como se apresentavam nas exposi??es. “Costumávamos criar um mundo inteiro em torno das exposi??es,” ela explica. “Nos tornávamos algo diferente. Por exemplo, ele poderia ser Jesus Cristo, e eu poderia ser a Virgem Maria, ou poderíamos ser aberra??es.”
Seus olhos brilham ao se lembrar de uma exposi??o em particular: “Eu o incentivei muito a fazer essa exposi??o solo. Ele me ligou uma vez e disse: ‘Sabe, eu quero que você me transforme nessa pessoa. Cabe?as femininas e masculinas.’ Eu disse a ele para deixar isso comigo. Ele estava vestindo um terno preto com maquiagem e esmalte preto nas unhas e uma luva rendada. E uma máscara e pérolas, e é verdade, todo mundo o adorava, e ele estava como um super deus entrando lá. Havia sua arte, e ele pintava na frente de seus convidados, e estava realmente bom. Eu realmente gostei. Foi muito legal – ele era como ‘O Chefe!’” Ela acrescentou: “Ele é meu modelo favorito.”
Suas colabora??es eram espirituais, de certa forma, e essa mesma energia transbordava no trabalho que ele fazia com a SiGMA. Assim como criavam mundos inteiros através de sua arte, Mark acreditava em criar oportunidades para outros através de sua filantropia. A Funda??o SiGMA se tornou outra tela, onde ele pintava com as cores da compaix?o e conex?o.
Onde a criatividade encontra santuário
Nossa conversa mudou para a abordagem de Mark em rela??o à cria??o de arte – um processo t?o fluido quanto sua imagina??o e t?o variado quanto os materiais que usava. “Para cada ideia, você precisa tratar cada ideia de acordo com o que a ideia é,” explica Etienne, capturando o espírito adaptável com o qual Mark abordava seu trabalho. “às vezes é o método; usamos argila, esculpimos, usamos acrílicos, às vezes usamos moldes, ent?o é sempre diferente. às vezes fazemos fotografia, às vezes videografia, ent?o depende da ideia.” Cada pe?a assumia sua própria vida única, moldada pelo meio que melhor se adequava à vis?o.
As memórias de Etienne sobre seus estúdios revelam os ambientes que nutriram essa criatividade. O estúdio “público” deles, situado no cora??o de uma vila em frente a uma igreja, era um lugar cheio de vida e energia vibrante. Suas portas estavam abertas para curiosos passantes que frequentemente entravam, atraídos pela vis?o de algo novo e intrigante. Etienne ri ao recordar de um local que uma vez confundiu suas pequenas esculturas de argila com pastizzi. Nesse espa?o vibrante e imprevisível, Mark prosperava com a mistura de intera??es e curiosidade compartilhada.
No entanto, além deste ateliê agitado, havia outro estúdio. Um retiro mais tranquilo e íntimo que eles chamavam de “lugar seguro.” Ao contrário do estúdio da vila, esse segundo espa?o oferecia isolamento e paz, um santuário onde podiam trabalhar com total foco, livres de interrup??es. Foi aqui, dentro dessas paredes, que passavam longas horas juntos, muitas vezes trabalhando lado a lado em um silêncio confortável e significativo.
O espa?o carregava uma espécie de energia de cura para ambos. Etienne lembra que, sempre que chegavam lá com dores de cabe?a, a tens?o se dissipava, dando lugar a uma sensa??o de calma e clareza. “A gente só se sentia melhor aqui,” ela reflete. O próprio Mark dizia: “Eu me sinto t?o seguro aqui.”
Foi nesse ambiente de conforto e seguran?a que a conex?o entre eles frequentemente se tornava mais profunda. Após sua partida, Etienne manteve o estúdio, o lugar seguro deles, como um tributo à vis?o compartilhada. “Por enquanto, n?o consigo fazer sem o Mark,” ela admite suavemente. “Costumava fazer exposi??es solo, mas ele sempre estava lá, sempre me dava ideias e me apoiava. Passávamos horas juntos — 12 a 15 horas por dia trabalhando. às vezes, sem dizer uma palavra sequer.”
Nesse espa?o sagrado, o ar ainda parece carregado com as incontáveis horas criativas, com o vínculo silencioso entre eles pairando como uma presen?a invisível. Ali, até o silêncio tinha sua própria linguagem. Um lembrete do mundo que construíram juntos e de uma paz que permanece.
Um tributo a uma boa alma
Quando perguntam como resumiria Mark em uma frase, a voz de Etienne suaviza. “Ele era uma boa alma,” diz ela, com o mesmo sorriso agridoce. “Ele n?o ligava para rancores ou coisas materiais. Mark adorava brechós e raramente comprava roupas novas. Se algo custava vinte euros, ele dava trinta. Era apenas quem ele era.”
Etienne pausa, pensativa. “Se ele pudesse deixar uma última palavra sobre seu legado, acho que gostaria de ser lembrado como alguém que doava. Ele doava sua arte. Seu tempo. Seu cora??o.” Seus olhos brilham, e ela acrescenta suavemente: “Se eu tivesse que dizer alguma coisa,” ela repete, “eu diria que ele é uma boa alma.”
Conforme a Funda??o SiGMA avan?a, a memória de Mark Mallia continua a inspirar. Seu legado vai além de sua arte exposta nas galerias e persiste nas vidas que influenciou, nas causas que apoiou e na funda??o na qual depositava grande fé. Através de sua arte e de sua filantropia, seu espírito perdura.